A Rifa do Ventilador e a Fé que Germinou
Na beira da cidade de São Domingos do Capim Doce, onde até os cachorros parecem rezar o terço na calçada, morava um homem conhecido de todos: Sandro, o da rifa (ou “Sandro Rifeiro”, como apelidou Dona Dalva, que adorava inventar nome pros outros).
Sandro era um desses homens difíceis de explicar. Tinha o coração de santo, mas a aparência de quem perdeu a luta contra um guarda-roupa. Usava sempre a mesma camiseta do Corinthians de 2005 (a que já tava virando pano de prato), e calçava uma havaiana de cada cor. Mas tinha algo nele que encantava: um brilho no olho que nem a fome, nem a tristeza, conseguiam apagar.
“Não quero só pegar… quero plantar!”
Desde que ficou desempregado, Sandro passou a receber a cesta básica da comunidade. Nunca reclamou, mas sempre dizia com um sorriso maroto:
Um dia, na saída da missa das 18h, o grupo dos jovens fez uma surpresa: deram a ele um ventilador novo, da marca Ventola Turbo, desses que até bagunçam os cabelos da estátua do padre.
Dona Cidinha logo comentou:
Mas ninguém esperava o que viria. Na semana seguinte, Sandro apareceu com um bloquinho de papel, caneta Bic e um sorriso mais largo que o portão da igreja.
A rifa que ninguém entendeu (no começo)
— Óia só! Tô vendendo rifa de um ventilador novinho. Dois real o número! — anunciava ele, de porta em porta, com uma alegria que parecia vinda direto do céu.
Seu João, do Ministério dos Homens, perguntou:
Sandro respondeu com aquele tom meio profético, meio sertanejo filósofo:
Com o dinheiro da rifa, Sandro queria comprar sementes, terra, ferramentas baratinhas. Queria montar uma hortinha no quintal para começar a viver do que plantasse. Não por orgulho — mas por propósito.
Multiplicação dos legumes
A rifa foi um sucesso. Até quem nunca ganhava nada comprou número só pela causa. O padre até anunciou no final da missa:
No dia do sorteio, quem ganhou foi a pequena Luana, de 6 anos, que gritou de alegria e disse: “Agora minha boneca vai dormir fresquinha!” — e ninguém teve coragem de explicar que boneca não sua.
Sandro usou os R$112 arrecadados e comprou sementes de alface, rúcula, cebolinha, e até um pé de tomate. Construiu uns canteiros tortos, mas caprichados. Rezava antes de plantar cada semente:
O testemunho que brotou
Meses depois, Sandro não só estava colhendo verdura como vendendo maços de cheiro-verde na frente da igreja. Mas o mais bonito era o que ele falava para quem perguntava sobre sua hortinha:
Ele virou inspiração. O grupo de catequese fez um “Projeto Rifa do Bem”. A pastoral da juventude começou uma horta comunitária. Até o Padre Renato plantou um pé de manjericão atrás da sacristia (que morreu, mas valeu a intenção).
Conclusão: da caridade à dignidade
O ventilador, aquele presente tão simples, virou símbolo de transformação. Sandro ensinou a todos que dignidade não é sobre ter muito, mas sobre usar bem o pouco com fé e propósito. Ele provou que a caridade é boa, mas o trabalho com sentido é melhor ainda.
E como ele mesmo disse um dia, depois de vender 10 maços de alface em uma manhã:
Autor: Sandro Chequetto
Inspirado nas pequenas grandes lições da fé, do suor e da graça divina.

Comentários
@eunicegarciaterapeuta